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EL PAÍS Semanal | Pablo Alborán: entre a tempestade e a calma.

  • Equipe Pablo Alborán Brasil
  • 16 de abr. de 2015
  • 9 min de leitura

Por Jesus Rodríguez

Prestes a iniciar uma turnê pela América e Espanha, descobrimos todas as chaves do ‘fenômeno Alborán’ em uma viagem da Argentina até Málaga ao lado dele.

Pablo Alborán na van em Buenos Aires

Pablo Alborán responde com áudios no Whatsapp. Colocando o telefone a um centímentro da boca, como um rádio policial, desfia um monólogo bem articulado, agradável e simpático, que finaliza com um "beijo" ou "abraço", dependendo do destinatário. É o artista mais atencioso do firmamento musical. Um tipo incomum de cortesia em um negócio infestado de facadas. Nada de gestos azedos, palavras ásperas ou perguntas delicadas vetadas a jornalistas. Nem um empresário inquieto nas suas costas. Só Esperanza, sua discretíssima sombra, sua agente: a guardiã do seu passaporte, agenda, cartões e analgésicos enquanto roda pelo planeta; sua companheira de filmes e espaguetes solitários. "Minha mamãe", diz Alborán, diante do gesto ligeiramente irritado dela.

Pablo Alborán no hotel em Buenos Aires com a equipe da gravadora

Alboran é a antítese do bad boy do show business. Consegue com naturalidade. Sua simplicidade não parece forçada. Seu personagem tem mais a ver com Rafa Nadal, inclusive na modéstia, dedicação total, peitoral de remador e pele aveludada, que com Justin Bieber ou Pete Doherty: "Não sou um viciado; não me embebedo e quebro os quartos de hotel; sou normal; eu não dou uma de estrela porque não me sinto uma estrela. Sim, sou uma marca, mas por trás disso há uma pessoa, não um personagem fictício. E canto, mas tenho uma vida. Não faço questão de viver acampado no tapete vermelho; esta profissão é uma loucura e se monta um circo em cada aeroporto, e você não vê sua família, e tem uma responsabilidade enorme, você explodiria; diante dessa pressão, cada um reage à sua maneira. Alguns, com antidepressivos. Eu, com a calma. É a minha chave.

Essa palavra está na letra de todas as minhas músicas desde que eu tinha 12 anos.

Antes de um show, um programa de televisão, entre duas entrevistas, eu leio, medito, faço yoga. Me alongo, respiro, escapo. E sempre que posso, boto o pé na estrada e volto para casa. Sentir o cheiro do sal do mar e contemplar a luz de Málaga. Estar com os velhos amigos de fogueira, violão e cajón nas noites de praia. Compor no mesmo estúdio pequeno na casa dos meus pais, que forrei com caixas de ovo de papelão para insonorizar, onde comecei. (Embora eu e minha irmã tenhamos dado um tapa no visual e reformado o famoso sofá branco dos primeiros vídeos no YouTube).

Continuo um doente pela composição. Estou imaginando músicas toda hora. Isso me salva. Senão, ficaria louco. Também me recomponho pensando no que me falta por fazer. Tenho 25 anos, e nessa idade, se tem sucesso, você acha que sabe tudo; mas tenho muito a aprender e um longo caminho a percorrer. Uma carreira que quero decidir para onde vai. Eu tenho que amadurecer e evoluir; experimentar novos registros; descobrir sentimentos dentro de mim. Esse horizonte é o que me move".

A ponto de entrar em um programa de televisão argentino

- Você sabe quanto ganha?

Perfeitamente. Ganha-se muito, mas se trabalha muito. Não para. Tenho ao meu lado gente da minha família que cuida da minha estabilidade e futuro. Mas o dinheiro não é o objetivo. Não tenhos carrões nem mansões, nem um barco. Nem eu quero. Uma cobertura de 100m no norte de Madrid (que inunda quando chove) e, em Benalmádena, a casa dos meus pais, que é a minha casa. Na minha família, nunca tivemos um centavo. Meus irmãos herdavam as roupas e vivíamos em um pequeno apartamento em frente à Malagueta. No ano que nasci, em 89, as coisas começaram a melhorar. Quando meu avô materno morreu, fomos para sua casa em Benalmádena, e ali seguimos. Somos uma espécie de comunidade com meus irmãos e sobrinhos. Meu pai tem 68 anos e vai para o trabalho todos os dias em seu estúdio de arquitetura e é um boêmio. De ricos, nada.

- O que não faria por dinheiro?

Publicidade de marcas que fossem contra os meus valores; tampouco tiraria a camisa no palco, porque sou um cantor, não um fisiculturista. Não faria um show vulgar com dançarinas; não venderia minha vida: não tornaria público quando vou cantar para crianças em quimioterapia; minha casa não sairia na Hola. Minha vida é minha.

- Tem muitas relações?

Se não tivesse sexo, me daria um tiro.

Ensaiando para cantar em evento privado da gravadora, na Argentina.

Disciplinado e com fome de sucesso. Contido. Cerebral. Com um físico dividido em duas partes: a superior, inflada à base de academia, e a inferior, daquele menino magro que a mãe colocou na natação para que se fortalecesse. Alborán, o artista que (de longe) mais álbuns vendeu na Espanha nos últimos quatro anos (saltando sobre uma crise endêmica do setor), com dezenas de discos de platina, 160.000 cópias colocadas no mercado em apenas dois meses do lançamento de seu último trabalho, Terral; que já fez 120 shows com seu primeiro trabalho (“Pablo Alborán”, 2011) e tem mais de 70 confirmados para esta temporada (mais de 40 na Espanha a partir de maio), se locomove pelo sofisticado bairro porteño da Recoleta (que considera ser o 8º arrondissement de Paris) por trás dos vidros escurecidos de uma van de estrela de rock com assentos de couro, wi-fi, água mineral e climatização ártica.

Outra van. Outros vidros escurecidos. Outro hotel cool. Outra cidade planejada. Nem turismo, nem restaurantes Michelin, nem madrugadas loucas ou fãs brotando sob lençóis de algodão de luxo duros como uma mortalha. No final do dia, o prêmio é um Whopper com queijo. Água mineral. Um meteórico espidifen (analgésico antiinflamatório). E tentar pregar o olho, porque, às oito da manhã, com o cérebro dormente, outra sequência infinita de entrevistas começa. Sempre as mesmas perguntas: desde suas influências musicais até sua amizade com Ricky Martin e seu bisavô marquês. Se está alegre, faz malabarismo com as respostas. É um interlocutor brilhante. Até o vocabulário. Caso contrário, se passou uma noite em claro, escapa com respostas de rigor e uma dose de cafeína. "Pulso firme", brinca. Estar com ele por alguns dias significa chegar a saber de cor todas as perguntas e todas as respostas.

Atenciosamente atendendo os fãs, na Argentina.

Vem do Chile. Decola até o México e Estados Unidos. Durante a primavera, vai atuar em toda a América com o objetivo de mais longe, de tornar-se um artista global. Mais jovem que Alejandro Sanz, menos latino que Enrique Iglesias, mais próximo (segundo ele) de Jorge Drexler. Com um estilo próprio, orgânico, autêntico, cada vez mais desnudo e intimista e menos presunçoso e artificial, e o bônus de ser um músico que compõe e fala línguas: capaz de explorar um fado ou um trechinho de bossa nova, a nouvelle chanson ou Paraules d'amor em catalão com seu idolatrado mestre Serrat; de dedilhar o violão e acariciar o piano desde os sete anos de idade.

Percorre o continente como um comerciante com seu disco debaixo do braço cumprindo a tarefa mais ingrata do seu ofício: a promoção. Tornar-se conhecido. Conquistar os consumidores. Vender discos, downloads, ingressos. E dar emprego a dezenas de pessoas da multinacional Warner Music (o terceiro maior império do entretenimento) envolvidas na produção do seu álbum e vídeos, na sua promoção e venda, nas suas performances ao vivo (a última mina de ouro de um artista e das gravadoras na era negra da pirataria), na bem calculada comercialização da sua imagem através de publicidade, merchandising, eventos e patrocínios.

Aí está o dinheiro. O baú do tesouro que sua companhia capta e gerencia através de uma sociedade participativa, Get In, da qual a Warner tomou participação majoritária em 2008 (quando se deparou com a realidade de que nunca mais venderia milhões de discos); que administra sua turnê e rentabiliza cada centímetro da marca Alborán. Isto é o que a indústria chama de contratos de 360º graus. Através destes acordos, a companhia se compromete a apoiar, promover e investir em um artista, e em troca participa em cada centavo que ele lucre. Não só pelos seus discos (como acontecia historicamente, quando o artista tinha apenas entre 10% e 15% das vendas), mas por todo o resto. Pela marca. Vivemos uma fase da indústria que o financista Edgar Bronfman Jr., ex- presidente da Warner, resumiu com esta frase: "A indústria da música está crescendo; a indústria discográfica, não".

Quando não está no palco, o telefone é sua principal ferramenta de trabalho e mantém sua família mais próxima durante longas viagens.

Se Alborán seguir o roteiro; se prontamente responder dezenas de jornalistas escondendo a ressaca do jet lag e se esquivando do campo minado das questões pessoais, enquanto solicitamente oferece café e croissants; se beijar com o mesmo entusiasmo suas fãs e suas mães; se conquistar o apresentador de televisão; se tirar mais selfies com seus seguidores que Bisbal ou Bustamante; se continuar fervendo nas redes sociais, satisfazendo seus dois milhões e meio de amigos virtuais, e ainda convencer no palco mostrando sua (para muitos ainda inédita) faceta de showman, continuará ocupando o número um. Conseguirá que seus fãs incondicionais comprem seu disco para ter um pedaço dele. Fará dinheiro. Mas nunca poderá baixar a guarda.

A van se aproxima do turbulento Río de la Plata ao lado de um café americano em direção a meia dúzia de eventos com seus fãs. Muito jovens, muito apaixonadas e de classes populares. Pablo Alborán recebe em tempo real os dados fornecidos pela sua gravadora sobre as vendas de discos, a produção do novo vídeo e a agenda de shows. É viciado nos dados. Como as grandes estrelas. Quer saber de tudo. Ele odeia que lhe privem de informações. Sua antena está sempre conectada, mesmo que pareça melancolicamente ausente. O trânsito em Buenos Aires é desesperador. Alborán esboça uma tentativa de cantarolar um flamenco. Brinca de percussão com os dedos no vidro do veículo. Cochila. Abstrai-se. Troca mensagens com o pai, um culto antifranquista filho de um franquista culto que lhe injeta ópera nas veias. Está vestido de Pablo Alborán: camiseta branca, jeans e botas: o uniforme minimalista de um indivíduo que acredita que em qualquer faceta da vida, "menos é mais". Assim, surge a sua existência: low-profile fora dos palcos.

Recriando cenários da juventude com os amigos, na gravação do vídeo de "Pasos de Cero" em Baños del Carmen.

Neutro até na política. Nunca se define. E raramente mete os pés pelas mãos. Cai bem. O curioso é que só se passaram cinco anos desde que colocou seus primeiros vídeos na web. Estava desesperado porque seu primeiro trabalho nunca via a luz. E ele jogou sua carta. Conseguiu 70 milhões de visualizações e se tornou um fenômeno viral. "A Internet, para mim, foi como tocar em uma grande avenida global; como um músico que vai cantar no metrô e um caça-talentos o descobre por acaso". Em 2011, chegou o disco. Finalmente. Ele tinha 20 anos. E um par de tentativas em vão na faculdade. Assinou com a Parlophone, uma subsidiária de destaque da multinacional EMI, a mesma do Coldplay, Blur e Pet Shop Boys, e que abrigou os Beatles. "Eu não sabia nada desse negócio, e os diretores não tinham certeza se eu iria vingar; pressionaram-me, deixei que me manipulassem, me traziam e levavam, não abria a boca; passei três anos sem férias. Meus discos estavam super-produzidos, chegavam a ser barrocos e sobrecarregados. Não soavam como as minhas maquetas, não soavam como eu toco ao vivo, não soavam como eu sou; inclusive, colocavam elementos eletrônicos para torná-las mais modernas". Após a autocrítica, a realidade: em poucos meses, tornou-se um dos mais vendidos. Já não desceria desse posto. Tudo funcionando. Embora, às vezes, discordasse dessa imagem adoçada para consumo de pré-adolescentes. Mas pensava ser o preço do sucesso.

"E, de repente, em 2012, a Universal Music comprou a EMI, a gravadora em que eu estava. E tudo se desfez." No jogo de poder entre os gigantes da indústria, que em um curto período, passaram a ser três (Universal, Sony e Warner), deixando duas empresas míticas (BMG e EMI) na sarjeta da história, Alborán parecia preso. A indústria fonográfica diminuiu e ele foi forçado a se concentrar e se recompor para sobreviver. A indústria deixava de vender discos para vender artistas. "Mas não terminou aí, porque a parte espanhola da EMI não iria acabar nas mãos da Universal, mas de outra multinacional, a Warner, por exigências da União Europeia, no intuito de que não se constituísse um monopólio da Universal. E eu entrei nesse pacote que foi transferido de uma companhia para outra e, depois, para uma terceira. Angustiei-me. Não sabia o que seria da minha recém-estreada brilhante carreira. Minha equipe era nova. Perdi amigos. Alguns foram demitidos. E morreu o Simone Bosé, que foi meu mestre desde os primeiros passos. Eu vi o precipício. Aprendi a amar a mim mesmo para não sucumbir. Aprendi a gostar do Pablo Alborán".

Fim de gravação em Málaga. Após a turnê na América Latina, será a vez da Europa, incluindo inúmeras datas na Espanha. Pela primeira vez, ele dirige a própria turnê. Alborán cresceu.

A palavra crise, em mandarim, é escrita com dois caracteres: perigo e oportunidade. Hoje, Alborán reconhece que a transferência forçada de gravadora lhe permitiu crescer mais rápido. Deixar tutelas. Deixar para trás os medos. E tomar decisões. "Tudo isso foi bom porque a Warner me permitiu tomar as rédeas, e eu projeto uma caminhada longa, pensada e controlada por mim. Para começar, este disco, Terral, é meu. E esta turnê com uma centena de shows é minha. Se um dia eu fracassar, não tem problema. Nesta aventura toda, aprendi algo importante: não pertenço a ninguém ".

 
 
 

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